Antes de ser tão adulta.

Eu sempre tive mania de olhar para as pessoas e observar o seu modo de se comportar. Isso sempre acompanhou a minha mania de procurar um lugar para sentar que não tivesse pessoas ao lado.

E nessa minha mania de observar as pessoas, protegida por um livro nas mãos, eu descobria o mundo e me descobria. Você pode até achar que eu era anti social, mas essa era a minha forma de ser muito social, a minha forma de ouvir os outros ao invés de querer que o mundo parasse para me ouvir.

E isso me dava bastante prazer. Me dava ideias. Me trazia vontade de escrever, um dia, um livro. Era o meu momento de solidão em meio a multidão. Era meu momento do ouvir de mim mesma o que eu pensava do mundo.

Esses momentos agora são muito raros (será que ainda existem?). Sempre estou acompanhada. E a maioria das vezes, ao invés de ouvir o outro, estou somente esperando a minha vez de falar.

E hoje me dei conta que ao parar de observar o mundo a minha volta, eu parei de observar o mundo dentro de mim. Nada parou de acontecer, as pessoas, e eu, continuam correndo, rindo, chorando, falando sozinhas, contando mentiras, contando verdades e o tempo passando rápido… Sou eu que não vejo, não ouço e não penso mais.

Acho que isso faz parte da minha vida mais adulta, essa que me faz pensar muito mais nos meus filhos, no meu casamento, nos meus desejos materiais, nos meus efêmeros problemas, em como eu eu eu eu…

Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.

Sábado nós três estávamos voltando do mercado andando. Passamos por um casal de adultos sentados em uma escadinha conversando.

O Paulo questionou o que eles estariam conversando, quais seriam os seus problemas e angústias. E ainda criou um problema para eles. E era bem sério.

Claro que imaginando a dor do casal, os meus problemas que são mínimos, se reduziram a pó. E depois disso a música Epitáfio ficou tocando sem fim na minha cabeça.

O maior problema é que esses pequenos lapsos de consciência duram pouco tempo. E logo eu volto a olhar novamente para meu próprio umbigo e lamber minhas próprias feridas. Assim como todo mundo.

Porque a dor da gente sempre dói mais, a nossa pressa sempre é maior, o nosso sofrimento sempre dura mais, a nossa fome sempre precisa ser saciada primeiro. E com certeza, o nosso filho sempre é mais lindo e inteligente.

Mais não tenho dúvidas que eu devia ter me importado menos com problemas pequenos e ter morrido de amor!

Imagem via iplay.com.br

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