Alfabetização precoce, prova oral e um bebê com medo de decepcionar

Como a grande maioria das mães dessa geração fico procurando formas de estimular e participar de forma consciente da educação de meus filhos. “Faça você mesmo” é além de uma expressão de decoração e passa a ser um estilo de vida. E em grupos nas redes sociais links de homeschool não são mais novidade e cativam cada vez mais adeptas.

Mal Bernardo completou dois anos eu comecei a estimular sua alfabetização e sua escolarização precoce. Nas paredes de nossa sala, sempre na altura de seus olhinhos curiosos, estavam as formas, as cores, as vogais. Sem pressão, isso fazia parte de nosso dia a dia e eventualmente perguntávamos: -Filho, onde está o círculo? E feliz ele ia lá e apontava com seu dedinho gordinho a forma, ou cor, ou vogal que era solicitado. Palmas, risos, beijinhos de orgulho.

Conforme ele ia respondendo positivamente, eu me sentia segura para continuar. Em alguns meses comecei a colar na parede consoantes, algumas sílabas, notas musicais, números. E ele sempre aprendendo rápido e tranquilo.

Pensa em um pai e uma mãe de peito estufado. Sim, porque parir um prodígio é mais orgulho do que se pode imaginar. Ouvir das pessoas: -Poxa, mas que mãe dedicada! Ou então: -Esse menino é muito inteligente! Deixa qualquer casal na certeza absoluta que está no caminho certo.

Mas então de um dia para o outro, o menino começou deliberadamente a errar as respostas. Chegava uma tia em nossa casa, perguntava onde estava o quadrado e ele rindo mostrava o triangulo. Chegava uma visita entrava na brincadeira e perguntava onde estava o azul e ele mostrava o amarelo. Aquilo começou a me incomodar. Eu sabia que ele conhecia as respostas certas e sabia que ele errava de propósito. Mas por que?

Até que em uma dessas, ele errou e olhou diretamente para meus olhos. Sabe quando você descobre uma coisa e junto com a resposta recebe uma descarga elétrica no corpo todo? Então, naquela hora entendi. Ele estava com medo de me decepcionar. Errava brincando para não correr o risco de errar de verdade e me deixar triste.

Em um segundo percebi tudo que estava fazendo com a pessoa que mais amava na vida. Eu ficava diariamente aplicando prova oral para um bebê de dois anos. E não feliz, deixava outras pessoas fazerem o mesmo com ele. Eu pensava que estava fazendo o melhor para o seu intelectual, mas na verdade eu estava deixando o menino inseguro. E totalmente sem necessidade.

Naquele dia mesmo tirei tudo que eu tinha colado na parede. Decidi que não forçaria mais a sua alfabetização precoce, e prometi que não ia mais tentar apressar as coisas por um capricho particular.

Confesso sem vergonha que aqui em casa aprender não é uma tarefa exclusiva das crianças. E confesso que na maioria das vezes só aprendo errando.

Se eu parei de estimular? De forma alguma! Aqui em casa não faltam tintas, giz de cera, lápis de cor, papéis, telas, histórias de livros e histórias da imaginação. Não faltam idas ao parque ou praça. Não faltam farras na cozinha com nossos bolos degustados em picnics por aí. E principalmente não falta presença.

Se meu filho começou a ler antes dos quatros anos? Não. Mas me orgulho em falar que estou ficando cada vez mais alfabetizada na leitura de seu mundinho.

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