Clube de mães, uma lata amassada e o fim da minha pretensão artística.

Eu cresci em uma cidade com pouco mais de 7 mil habitantes. Dá para imaginar o que é isso? É uma ruela em São Paulo. É 10% do público que enche o Maracanã.

Cresci praticamente um bicho do mato. Então que eu queria fazer um curso de algo tipo pintura, cerâmica, desenho pós moderno, sei lá. E claro que tinha gente que ria da minha pobre cara deslavada.

Decidida a correr atrás dos meus sonhos juvenis e cansada de receber chacota de meus próprios pais, na altura de meus nove anos de idade, procurei o clube de mães. Bati em suas portas que abriam toda terça-feira e explicando que ainda não tinha filhos, pedi encarecidamente uma vaga para aprimorar meu talento artístico. E assim um dia por semana eu pegava meu isopor encapado com uma folha listrada de verde e branco e ia feliz aprender a pintar panos de prato. Assim floresceu em mim essa vertente que vocês bem conhece. 9 anos. Clube de mães. Pano de prato.

Então que estava eu folheando uma revista de decoração super chique. E no meio da leitura me deparei com uma obra que estava em exposição para venda. A obra era uma peça de metal e uma marreta. O valor da obra era R$ 40,000.00 caso fosse amassada pelo autor, mas se caso o próprio cliente quisesse amassar o valor ficaria a bagatela de R$ 20,000.00 .

Essa obra me trouxe tantos pensamentos de tantas formas diferentes que poderia na verdade ser um livro de filosofia. Para começar eu não pagaria esse valor por uma obra (não me julguem, pessoa pintadora de panos de prato, lembram?). E também admiro muito o autor pela capacidade de valorização do próprio trabalho, porque né, eu me sentiria no mínimo insegura tendo essa ideia. E mais, passei a perceber que toda a sensibilidade artística que eu pensava ter era na verdade balela, pois veja bem, eu não conseguia ver beleza na dita cuja obra, muito menos a força da natureza humana, com a expressão do sofrimento da pessoa, envolto na couraça da escravidão da alma acorrentada do ser. Admiro quem consegue.

Em compensação minha gente, eu consigo olhar para um biscoito decorado e enxergar amor e carinho! Consigo pensar em uma pessoa feliz amassando manteiga com farinha. Consigo me sentir abraçada por alguém que teve tamanho cuidado com algo tão simples e delicado. Vai entender!

Poderia eu culpar minha infância no mato, poderia eu culpar minha origem humilde, poderia eu culpar as colegas do clube de mães. Mas não, só estou aqui fazendo tentativas de biscoito decorado enquanto choro lágrimas de emoção e frustração em meu próprio pano de prato.

Oi, eu sou um biscoito decorado que deu mais ou menos certo 🙂

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4 pensou em “Clube de mães, uma lata amassada e o fim da minha pretensão artística.

  1. Oi Diana, que belo depoimento… Cheio de sensibilidade e coragem!

    Todos temos nossas dificuldades, traumas e sonhos da infância.. ô se tem… eu tenho… Alguns deles nem me atrevo a falar…

    Fiquei imaginando a tal arte… bom.. não sei opinar como uma artista, eu sei que faço “arte também” e olha… cada pincelada na minha tela vale mais de 40.000… Não é fácil, é trabalhoso e arranca a alma da gente..
    Mas eu não sou artista…apenas pinto..quem sou eu tb pra falar que um metal e uma marreta são artes..

    As vezes acho que muitas coisas são forçadas… Opinião de leiga..

    Independente de tudo você deve ter aprendido muito com tudo isso que contou… não sei como transmitiu a arte pra sua vida interiormente, mas toda a sensibilidade e criatividade você amadureceu e carregou…

    Desde a fotografia até o biscoito, acho tudo de muito bom gosto, SENSÍVEL e craitivo…

    Não sei também onde você gostaria de chegar com a arte do biscoito, nem como você fez, mas ao meus olhos está PERFEITO!

    Chore lágrimas de conquista! Pra mim você conseguiu ha tempos… ou sabe-se lá desde que comecei a frequentar o Inventare, pois por aqui sempre vi ARTE!

    Um beijo… deu vontade de comer esse biscoitinho lindo! 🙂

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